APESAR DOS PROTESTOS DA POPULAÇÃO E O AVANÇO DA COVID-19 NO PAÍS JAPÃO MANTÉM OLIMPÍADA

Há três semanas a média móvel diária de casos de Covid-19 cresce no Japão. Apenas 30% da população do país já recebeu a primeira dose de alguma vacina. Totalmente protegidos com as duas deoses, são 18%. Com 70% da população repudiando o evento, porque então ele está mantido?

Da redação | 16/07/2021

PROTESTOS - Em algumas pesquisas, 70% da população se disse contrária ao evento; para que e para quem, afinal? - Kimimasa Mayama/EFE

No Japão, o atraso médio do Shinkansen, o trem-­bala, é de inaceitáveis doze segundos. Para o prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata, em japonês “nenhuma palavra diz mais que o silêncio”. As jovens orientais são ensinadas a pôr o brinco do lado direito com a mão esquerda porque o gesto soa mais delicado. O termo shokunin, cuja tradução literal é “artesão ou artífice dedicado ao trabalho”, tem um significado mais amplo e sutil: pode ser entendido como perfeccionismo, a atenção obsessiva e inegociável com os detalhes do cotidiano. 

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E como é possível que nesse país pontual, calado, atrelado a miudezas e respeitoso possa ser realizada a Olimpíada de Tóquio, que parece estar no avesso desses atributos, em plena pandemia do novo coronavírus? Sim, há um quê de estereótipo na definição do jeito de um povo, exagerado olhar forasteiro, mas é retrato próximo da realidade — e parece inacreditável que as autoridades políticas e esportivas, filhos de uma cultura estrita, tenham confirmado a realização do evento, com abertura prevista para a próxima sexta-feira, 23 de julho.

IMAGINE NUM PAÍS ASSIM – Lentidão: apenas às vésperas da competição a campanha de imunização foi acelerada – Kaoru Tachibana/Imageplus/.

Por que, enfim, manter os Jogos? Não há resposta única, mas uma delas não tem nada de especificamente nipônico: o dinheiro. Se o torneio fosse cancelado, depois do adiamento do ano passado, as perdas estimadas chegariam a 16 bilhões de dólares, com subtração de patrocínios, rompimento dos direitos de televisão e compensações devidas ao Comitê Olímpico Internacional (leia a reportagem na pág. 62).


Ressalve-se que o orçamento inicial para a organização da Olimpíada, divulgado em 2013, era de 7,5 bilhões de dólares. Mais que dobrou, depois de ter sido transferido de 2020 para 2021, com a aplicação de protocolos de saúde para evitar o contágio pelo vírus entre a chamada “família olímpica”, feita de atletas, treinadores e dirigentes. Mas a engrenagem não parou, e a graxa que a fez andar talvez tenha uma liga geopolítica. Os Jogos de Inverno de 2022 acontecerão em Pequim, na China — e o Japão não poderia se dar o luxo de conceder ao oponente histórico, em permanente guerra fria, quando não quente, o direito de realizar uma festa que soasse como gloriosa celebração da retomada da normalidade. Os japoneses queriam ter essa primazia. No entanto, ela parecerá manca e precoce — embora, como em toda Olimpíada, nos próximos dias viveremos inesquecíveis momentos de glória e drama, a beleza indizível do esporte.

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Contudo, na semana passada, o governo anunciou, pela quarta vez desde o início da pandemia, a decretação do estado de emergência em Tóquio, que vigorará até 22 de agosto (os Jogos terminam em 8 de agosto). Na prática, ele determina o fechamento antecipado de bares e restaurantes, às 20 horas, e a proibição da venda de bebidas alcoólicas. As restrições tentam barrar o contágio do vírus. E foram, tal qual no Brasil, tratadas de hipócritas e desnecessárias pelos proprietários dos estabelecimentos, economicamente feridos.

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