APESAR DOS PROTESTOS DA POPULAÇÃO E O AVANÇO DA COVID-19 NO PAÍS JAPÃO MANTÉM OLIMPÍADA
Há três semanas a média móvel diária de casos de Covid-19 cresce no Japão. Apenas 30% da população do país já recebeu a primeira dose de alguma vacina. Totalmente protegidos com as duas deoses, são 18%. Com 70% da população repudiando o evento, porque então ele está mantido?
Da redação | 16/07/2021
PROTESTOS - Em algumas pesquisas, 70% da população se disse contrária ao evento; para que e para quem, afinal? - Kimimasa Mayama/EFE |
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E como é possível que nesse país pontual, calado, atrelado a
miudezas e respeitoso possa ser realizada a Olimpíada de Tóquio,
que parece estar no avesso desses atributos, em plena pandemia do novo
coronavírus? Sim, há um quê de estereótipo na definição do jeito de um
povo, exagerado olhar forasteiro, mas é retrato próximo da realidade — e
parece inacreditável que as autoridades políticas e esportivas, filhos
de uma cultura estrita, tenham confirmado a realização do evento, com
abertura prevista para a próxima sexta-feira, 23 de julho.
IMAGINE NUM PAÍS ASSIM – Lentidão: apenas às vésperas da competição a campanha de imunização foi acelerada – Kaoru Tachibana/Imageplus/. |
Por que, enfim, manter os Jogos? Não há resposta única, mas uma delas
não tem nada de especificamente nipônico: o dinheiro. Se o torneio fosse
cancelado, depois do adiamento do ano passado, as
perdas estimadas chegariam a 16 bilhões de dólares, com subtração de
patrocínios, rompimento dos direitos de televisão e compensações devidas
ao Comitê Olímpico Internacional (leia a reportagem na pág. 62).
Ressalve-se que o orçamento inicial para a organização da Olimpíada,
divulgado em 2013, era de 7,5 bilhões de dólares. Mais que dobrou,
depois de ter sido transferido de 2020 para 2021, com a aplicação de
protocolos de saúde para evitar o contágio pelo vírus entre a chamada
“família olímpica”, feita de atletas, treinadores e dirigentes. Mas a
engrenagem não parou, e a graxa que a fez andar talvez tenha uma liga
geopolítica. Os Jogos de Inverno de 2022 acontecerão em Pequim, na China
— e o Japão não poderia se dar o luxo de conceder ao oponente
histórico, em permanente guerra fria, quando não quente, o direito de
realizar uma festa que soasse como gloriosa celebração da retomada da
normalidade. Os japoneses queriam ter essa primazia. No entanto, ela
parecerá manca e precoce — embora, como em toda Olimpíada, nos próximos
dias viveremos inesquecíveis momentos de glória e drama, a beleza
indizível do esporte.
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Contudo, na semana passada, o governo anunciou, pela quarta vez desde o início da pandemia,
a decretação do estado de emergência em Tóquio, que vigorará até 22 de
agosto (os Jogos terminam em 8 de agosto). Na prática, ele determina o
fechamento antecipado de bares e restaurantes, às 20 horas, e a
proibição da venda de bebidas alcoólicas. As restrições tentam barrar o
contágio do vírus. E foram, tal qual no Brasil, tratadas de hipócritas e
desnecessárias pelos proprietários dos estabelecimentos, economicamente
feridos.
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